Portal Promenino publica matéria sobre o projeto Aluno Presente

Reportagem retrata o trabalho no combate à evasão escolar.

A matéria “Programa Aluno Presente dribla a evasão escolar e traz crianças cariocas de volta à sala de aula” foi publicada esse mês no portal Promenino. A jornalista Cecília Garcia destacou o trabalho realizado pelo projeto, que há dois anos auxilia famílias do município do Rio de Janeiro a colocarem crianças e adolescentes, com idade entre seis e 14 anos, na escola e cria condições para que eles continuem estudando.

O Promenino é uma iniciativa da Fundação Telefônica Vivo que busca contribuir para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes por meio da disseminação da informação, do apoio das organizações que lidam com esta temática e da sensibilização da população em geral.

Leia a reportagem completa abaixo ou acesse o site do Promenino.


Programa Aluno Presente dribla a evasão escolar e traz crianças cariocas de volta à sala de aula

Por Cecília Garcia, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz

 interna-170216Aqueles ritos que precedem a ida à escola, como arrumar os cadernos na mochila, colocá-la nas costas e abrir o portão luminoso de sol para ir estudar não fazem parte da rotina de muitos meninos e meninas no Brasil. Segundo levantamento feito pela plataforma Todos Pela Educação, em 2014, foram contabilizadas 2,8 milhões de crianças e adolescentes fora do ambiente escolar. Quando o escritor Rubem Alves fala das escolas que são asas, “que existem para dar aos pássaros coragem para voar”, fica também o anseio de que esses alunos tenham possibilidade de frequentar o espaço de aprender e brincar.

No município do Rio de Janeiro, o cenário de evasão escolar é perpendicular ao caminho da desigualdade social. Na “cidade partida”, como bem a chamou o escritor Zuenir Ventura, é nas comunidades vulneráveis que estão os índices mais altos de evasão escolar. Em 2014, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE) constatou que 24.417 crianças e adolescentes estavam fora das escolas na cidade, composto por uma rede de 11 coordenadorias regionais de educação.

Fazer com que as asas das crianças batam e avoem para dentro da sala de aula é a missão do projeto Aluno Presente. Atuando desde o final de 2013 no município do Rio de Janeiro, o programa é trabalho da Associação Cidade Escola Aprendiz, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele também integra a ação internacional Educate a Child, que atua em 32 países, com a missão de garantir que as crianças tenham direito à educação básica para se desenvolver plenamente.

O Aluno Presente é uma iniciativa cujo nome se autoexplica: trata-se de unir forças para fazer com que as crianças estejam na escola, diminuindo assim os altos índices de evasão. Para tanto, o projeto trança uma rede de atuação entre a família, a escola e a comunidade onde a criança que evade está inserida. Para identificá-las, foi necessário um trabalho hercúleo e pioneiro: mapear socioterritorialmente o município, subir e descer as quentes ladeiras cariocas para entender o ecossistema que favorece a ausência escolar.

O apoio de dois agentes é fundamental para o projeto. Um deles é o Observatório das Favelas, rede carioca de promoção aos direitos humanos. Com sua experiência em atuação nas comunidades, a equipe mapeou as regiões onde as crianças evadiam com mais frequência. E o segundo parceiro é a própria Secretaria, que, de acordo com Julia Ventura, gestora do Aluno Presente, “fornece listas com os dados das crianças que estão infrequentes ou que evadiram e abandonaram. Elas chegam até nós de três a quatro vezes por ano, com os dados da residência e contatos dos familiares”. Com o cruzamento dos dados, traçou-se um perfil do aluno que evade – culminando em um estudo inédito e de serviço público inegável (confira, abaixo, os resultados em destaque). 

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Contatar essas famílias é o primeiro passo na criação de um vínculo que permita a criança voltar a estudar. Os mais de 50 articuladores do programa, com base na lista de alunos recebida, fazem visitas às famílias. “A primeira pergunta que fazemos, ao iniciar a abordagem, é o motivo de a criança estar fora da escola. O articulador, ao longo do acompanhamento, qualifica a informação, que pode ir mudando porque os pais escolheram em um primeiro momento não revelar o motivo real. Qualificamos, então, o resultado de forma bastante elaborada e encaminhamos para as secretarias e para as CRES, para criarmos juntos uma solução”, explica Julia.

A gestora relata também que, com base na pesquisa, determinaram-se quais são os fatores que fazem a criança evadir. “As famílias desses alunos têm instabilidade de endereço muito grande, mudando não apenas dentro do município, mas também para outros estados. No momento da mudança, a criança sai da escola e corre o risco de não voltar nos próximos anos letivos.”

 Foto: AF Rodrigues
Foto: AF Rodrigues

Existe, inclusive, a questão da prestação de serviços da escola, que oferece uma vaga que não é compatível com as necessidades da criança – ou pela localização, ou por uma dinâmica de fronteiras simbólicas que acontece nas comunidades. “Às vezes, a família não consegue atravessar a rua para ir para escola em razão de um conflito. Isso tem de ser considerado”, reforça Julia. Outra motivação relevante é o desinteresse com relação à escolarização. “Muitas vezes, o discurso de não interesse aparece dentro da família, ou até mesmo a criança, que diz não querer ou não ter motivos para estudar.”

Leitura do mundo

O trabalho também depende muito da interação com o entorno – são mais de 1,4 mil as instituições parceiras do Programa Aluno Presente. Com uma rede tão fortificada, o projeto é capaz de adentrar territórios que outras instituições, até mesmo secretarias, não alcançam. “Temos um mecanismo de comunicação muito intenso com os locais para saber como está o território. Tomamos todos os cuidados; se, por exemplo, acontece algum conflito, nos programamos para ir aos horários mais tranquilos e continuar atuando, com toda a segurança possível”, conta Julia.

Os articuladores dentro das 800 escolas com os quais o projeto tem relação direta estão em contato permanente com seus coordenadores pedagógicos, criando com eles soluções e referências no tocante à evasão. Em fase piloto, um projeto também está sendo testado dentro de cinco escolas, em um trabalho com os grêmios escolares para mapear o que causa uma segunda evasão e o que pode ser feito para tornar a escola uma ambiente mais atraente.

Nestes dois anos de atuação, 11.012 crianças e adolescentes retornaram à escola. No formato em que foi criado, o projeto está previsto para terminar em dezembro de 2016, mas pretende-se que o legado consolidado da iniciativa se torne política pública. “Temos feito um trabalho de sistematização das ações e dos resultados para que seja deixada uma memória metodológica de estratégia e intervenção no território”, ressalta a gestora.

Iniciativas assim, de efeito social multiplicador, podem ser aplicadas em outros municípios do Brasil, respeitando as particularidades de cada localidade, articulado com escolas, poderes públicos e comunidade. É a cidade não só educando, mas retornando às crianças às escolas. E fazendo-as ficar.